Em Quipapá, cidade da Mata Sul pernambucana a aproximadamente 180 quilômetros do Recife, a unidade municipal de saúde não dispõe de um local apropriado para receber e manter doações de leite materno. Sem ter o que fazer com o excedente, a técnica em enfermagem Michele Maximino, 31 anos, desprezava o leite que sobrava após amamentar a filha Mariana, de 7 meses. No Recife para brincar o carnaval, ela resolveu procurar um banco de leite da capital depois da folia, o que acabou acontecendo na quinta-feira (14). Segundo o marido, em apenas três dias, ela acumulou nove litros e meio e deixou de boca aberta os funcionários do Instituto Materno Infantil de Pernambuco (Imip) que, infelizmente, não puderam receber a doação, porque o leite estava acondicionado inadequadamente.
Surpresos com a quantidade e com a facilidade da mulher para doar, os funcionários do banco de leite a orientaram sobre a higienização dos seios e dos vasilhames que vão receber o material. Na primeira ordenha na unidade de saúde, Michele conseguiu doar 1,3 litro, de acordo com o marido dela, Ederval Trajano. “Michele sempre teve essa quantidade de leite, a gente nunca procurou saber se era muito ou pouco. O pessoal do Imip ficou abismado mas, para nós, foi uma coisa normal”, conta. O marido lembra que, no mesmo dia, Michele voltou ao Imip e doou mais 680ml. Ainda na quinta-feira, mas em casa, ela guardou mais 700ml em dois vasilhames.
“São situações especiais em que algumas mulheres têm uma hiperprodução de leite. No caso de Michele, ela está amamentando muito bem a filha, e consegue fazer uma ordenha com muita facilidade. O normal em cada ordenha é algo em torno de 200ml, às vezes até menos. Quando conseguimos 200ml, a gente faz uma festa”, conta a nutricionista Tereza Freire, coordenadora do banco de leite da maternidade municipal Bandeira Filho, no Recife, que agora está atendendo Michele.
Na primeira doação que fez na maternidade, sexta-feira (15) passada, Michele conseguiu doar 1.540ml. “O leite dela flui com muita facilidade. Ainda paramos de ordenhar um dos seios porque a neném acordou e quis mamar. Ou seja, Michele produziu mais do que um litro e meio”, ressalta Tereza. Na tarde da sexta, Ederval Trajano lembra que a mulher doou mais 800ml e, durante este final de semana, já há seis frascos – cada um com 350ml – cheios de leite, esperando o momento de serem levados para o banco da maternidade, na segunda-feira.
A filha do casal, Mariana, nasceu em junho do ano passado, prematura de sete meses. “Ela nasceu em Caruaru [no Agreste] e a previsão era passar entre 40 e 50 dias na UTI, mas passou somente 17, por causa do leite materno”, diz o orgulhoso pai. Trajano conta que eles estão começando a incrementar a alimentação da menina, incluindo frutas e outros itens nas refeições, mas admite que está sendo difícil tirá-la do peito. “Ela é um bebê saudável e está muito habituada ao leite materno”, afirma.
Mariana é a terceira filha de Michele. Além da menina, com Ederval ela também tem Gabriel, de 2 anos. Do primeiro casamento nasceu Richard, que hoje tem 13 anos. Na lembrança do marido, a abundância de leite também aconteceu após o parto de Gabriel. “Ela amamentava umas cinco crianças que moravam perto de nós”, conta.
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